Um Édipo sem fronteiras: a insistência do arcaico no sex-addict

Autores

Palavras-chave:

adicção sexual, complexo de Édipo, cena primitiva, situações de risco

Resumo

Na adicção sexual, a realização do ato sexual se impõe ao sujeito de modo compulsivo. A sexualidade perde grande parte de seu potencial fantasístico, passando a servir como motor de uma busca desmedida e destrutiva de prazer que não comporta a possibilidade de vínculo libidinal com o outro. Este artigo, fundamentado no saber psicanalítico, tem por objetivo explorar o papel do complexo de Édipo nas determinações da situação clínica em questão, aspecto teórico de fundamental importância para a compreensão dos impasses que entravam a relação do sex-addict com seus parceiros e com sua própria sexualidade. A problemática edípica não se reduz à clássica descrição freudiana do complexo de Édipo, mas abarca uma série de condições e circunstâncias que precedem o ingresso do infante nessa etapa, sendo a construção da cena primitiva o fator decisivo que viabilizará ou não a entrada do sujeito num efetivo sistema de triangulação. Dedicaremos, portanto, particular atenção à vertente originária do Édipo, a qual tem na construção da cena primitiva o seu núcleo essencial. Esse eixo de trabalho nos conduzirá, por fim, a refletir sobre a adicção sexual em suas manifestações mais radicais e extremas, onde a crescente adesão a situações de risco por parte do sex-addict se torna paradigmática de uma busca sem limites e perigosa que, em seu sentido mais profundo, revela determinadas contingências de uma tumultuada história relacional.

Biografia do Autor

Ney Klier, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Psicólogo; Doutor em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Ex-Bolsista (Doutorado) da CAPES.

Marta Rezende Cardoso, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Psicóloga; Psicanalista; Doutora em Psicanálise e Psicopatologia Fundamental pela Universidade de Paris Diderot – França; Professora Titular do Instituto de Psicologia da UFRJ (Departamento de Psicologia Clínica; Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica); Pesquisadora bolsista do CNPq; Pesquisadora da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental.

Referências

André, J. (2011). Les 100 mots de la sexualité. “Que sais-je?”. Paris: P.U.F.

Bertrand, M. & Papageorgiou, M. (2010). Argument: Scène primitive. Revue française de psychanalyse, 74(4), 965-968.

Blanchard, A-M. & Decherf, G. (2002). Sexualité narcissique, sexualité génitale. Le Divan familial, 9(2), 61-70.

Breton, C. (2005). La transmission sexuelle du VIH, figure de la transgression?: Interview Marie-Claire Célérier, Champ psychosomatique, 38(2), 93-107.

Chabert, C. (2014). Œdipe aux frontières. In Estellon, V. [Org.], Actualité des états limites (pp. 91-107). Toulouse : ERES.

Charles-Nicolas, A. & Valleur, M. (1996). Du sens dans la prise de risque: les conduites ordaliques, Neuro-Psy, 8(11), 324-330.

Deloupy, J. & Varescon, I. (2007). Le bareback, un corps à corps énigmatique. Psychotropes, 13(1), 115-129.

Estellon, V. (2012). Sexualités extrêmes. Les sexualités mélancoliques. In Marty, F. & Estellon, V. [Orgs.], Cliniques de l’extrême (pp. 109-129). Paris: Armand Colin.

Estellon, V. (2014). Les sex-addicts. “Que sais-je?”. Paris: P.U.F.

Figueiredo, L.C. (2004). Os casos-limite: senso, teste e processamento de realidade. Revista Brasileira de Psicanálise, 38(3), 503-519.

Figueiredo, L.C. (2006). A clínica psicanalítica a partir de Melanie Klein. Jornal de Psicanálise, 39(71), 125-150.

Freud, S. (1996a). A interpretação dos sonhos. In S. Freud [Autor], Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vols. IV-V). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1900)

Freud, S. (1996b). Sobre a tendência universal à depreciação na esfera do amor (Contribuições à psicologia do amor II). In S. Freud [Autor], Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XI, pp. 181-195). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1912)

Freud, S. (1996c). História de uma neurose infantil. In S. Freud [Autor], Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XVII, pp. 15-129). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original escrito em 1914 e publicado em 1918)

Freud, S. (2007). O Eu e o Id. In S. Freud [Autor], Escritos sobre a psicologia do inconsciente (Vol. III, pp. 13-92). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1923).

Green, A. (1988). A mãe morta. In Green, A. [Autor], Narcisismo de vida, narcisismo de morte (pp. 239-273). São Paulo: Escuta. (Trabalho original publicado em 1980).

Laplanche, J. & Pontalis, J.-B. (2010). Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1982).

Roussillon, R. (2004). La dépendance primitive et l’homosexualité primaire en double. Revue française de psychanalyse, 68(2), 421-439.

Urribarri, F. (2012). André Green: o pai na teoria e na clínica contemporânea. Jornal de Psicanálise, 45(82), 143-159.

Downloads

Publicado

2020-07-20

Edição

Seção

Artigos