Na boca do crocodilo: a face indigesta da amamentação exclusiva

Autores

  • Danielle Carvalho Ramos
  • Roseane Freitas Nicolau Universidade Federal do Pará – UFPA, Escola Letra Freudiana

Palavras-chave:

aleitamento materno exclusivo, gozo, angústia, voracidade.

Resumo

O presente artigo problematiza as possíveis implicações dos programas de aleitamento materno exclusivo, que, fortemente firmados em um ideal de maternidade, garantem o cumprimento de prescrições reguladas pela chamada livre-demanda, devendo a mãe oferecer ao bebê, pelo menos até o sexto mês, somente o seio-leite materno como alimento e objeto oral. Retomando algumas considerações de Jacques Lacan, propomos pensar na tendência a uma excessiva presença da mãe ensejada por esse discurso que visa à benevolência, fazendo surgir, como possível contraponto, o bebê enquanto um objeto-resto na fantasia materna. Poderíamos pensar o discurso do aleitamento como favorecendo um prolongamento da relação alienante entre mãe e filho, com graves consequências para o bebê? No âmbito da fantasia materna, poderia o bebê ser tomado como um objeto de gozo para o Outro? São questões a serem desdobradas ao longo do texto.

Biografia do Autor

Danielle Carvalho Ramos

Psicóloga. Mestra em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Pará (PPGP/UFPA).

Roseane Freitas Nicolau, Universidade Federal do Pará – UFPA, Escola Letra Freudiana

Professora Associada da Faculdade de Psicologia e Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFPA. Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. Líder do grupo de pesquisa do CNPq Psicanálise, sintoma e instituição. Membro do GT Dispositivos Clínicos em Saúde Mental (ANPEPP). Psicanalista, membro da Escola Letra Freudiana.

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Publicado

2015-08-12

Edição

Seção

Artigos