Transtornos do espectro do autismo e psicanálise: revisitando a literatura

Autores

  • Amanda Pilosio Gonçalves Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI
  • Bruna da Silva Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI - Itajaí
  • Marina Menezes Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
  • Luana Tonial Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

Palavras-chave:

psicanálise, autismo, transtorno autístico.

Resumo

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) constitui-se em um conjunto de características específicas que afetam o desenvolvimento de diversas maneiras, causando comprometimentos principalmente na área de habilidades sociais. Os indivíduos com autismo geralmente apresentam padrões restritos de atividades, interesses limitados e comportamentos estereotipados. Historicamente, a forma de compreender os TEA tem se modificado, em nível de causalidade, diagnóstico e até tratamento, sendo a psicanálise um dos modelos teóricos e técnicos mais influentes. Esta pesquisa objetivou analisar as relações entre autismo e psicanálise em produções bibliográficas brasileiras do período de 2009 a 2014 e analisar sistematicamente as publicações sobre as relações entre os TEA e a psicanálise. Estimou-se ainda descrever a etiologia dos TEA, identificar os parâmetros diagnósticos e elencar as principais formas de tratamento pelo viés da psicanálise. A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica e os dados foram coletados através da revisão sistemática da literatura disponível em bases de dados nacionais, como Biblioteca Virtual em Saúde - Psicologia Brasil BVS-PSI, Bireme, Lilacs e SciELO, através dos descritores “autismo e psicanálise” e “transtornos autísticos e psicanálise”. Os resultados obtidos indicaram que o maior volume de obras trata a etiologia como multicausal, destacando aspectos genéticos, biológicos, psicogênicos e relacionais. Sobre o diagnóstico, foram ressaltadas a singularidade e a subjetividade de cada sujeito e com relação ao tratamento enfatizou-se o manejo da transferência como uma técnica apropriada. Observou-se, no conjunto de publicações, que o diagnóstico e o tratamento estão voltados em sua grande maioria para a infância, chamando a atenção para a escassa quantidade de publicações que tratam de adolescentes e adultos com TEA.

Biografia do Autor

Amanda Pilosio Gonçalves, Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI - Itajaí, SC, Brasil.

Bruna da Silva, Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI - Itajaí

Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI - Itajaí, SC, Brasil.

Marina Menezes, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, Departamento de Psicologia - Florianópolis, SC, Brasil.

Luana Tonial, Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI - Itajaí, SC, Brasil.

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Publicado

2017-12-10

Edição

Seção

Artigos