Lacan, as normas de parentesco e a castração masculina

Autores

Palavras-chave:

psicanálise, patriarcado, Nome-do-Pai, falo, castração

Resumo

Neste trabalho, tentamos apresentar algumas contribuições da psicanálise lacaniana a certos pontos de tensionamento levantados pelas autoras feministas Gayle Rubin e Judith Butler. Partimos da constatação de que ambas essas autoras abordam a teoria psicanalítica a partir da concepção de parentesco de Lévi-Strauss, cuja consequência é, em alguns momentos, reduzir a psicanálise a um instrumento de reiteração das normas sociais que ela tenciona descrever. Diferentemente, buscamos argumentar que, ao abordar o problema do Pai e do falo na psicanálise, a obra de Lacan nos abre a possibilidade de sustentar uma distância crítica em relação a essas normas, particularmente a partir da posição do psicanalista, que recolhe da clínica os fracassos do funcionamento normativo do social. Assim, mais além dos semblantes de poder e consistência disseminados pelo ideal viril, somos levados a observar que o patriarcado se sustenta por um mito neurótico, ao passo que o falo no real (a despeito das insígnias fálicas que parecem conferir um privilégio simbólico aos seus portadores) constitui uma aflição para o macho, destituindo-o de qualquer segurança na abordagem do sexo. Diante disso, levantamos a hipótese de que as normas sociais buscam encobrir precisamente a castração paterna e a angústia masculina diante do falo, que ficam ocultas sob os semblantes da virilidade.

Biografia do Autor

Vinícius Moreira Lima, Universidade Federal de Minas Gerais

Mestrando em Estudos Psicanalíticos pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFMG (2020-2022). Bolsista de mestrado do CNPq. Graduado em Psicologia (UFMG). Ex-bolsista de iniciação científica do CNPq, sob orientação da Profa. Dra. Ângela Vorcaro (UFMG). Coordenador, juntamente com o Prof. Dr. Guilherme Massara Rocha, da pesquisa "Psicanálise lacaniana e teoria queer: um debate possível?" (2017-), bem como de seu subprojeto, "Quem a drag monta? Psicanálise, teoria queer e a função subjetiva da drag" (2018-), em andamento no Departamento de Psicologia (UFMG).

Referências

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2020-12-14

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Artigos