Psicanálise e jogos de regras: notas teórico-clínicas à luz dos trabalhos da latência

Autores

  • Mariana Inés Garbarino Instituto de Psicologia / Universidade de São Paulo

Palavras-chave:

Latência, jogos, clínica psicanalítica, desenvolvimento psicossexual.

Resumo

Presentes desde a antiguidade na mitologia e na arte, os jogos regrados são uma criação do homo-ludens e acompanham a filogênese há, pelo menos, 5.000 anos. Embora sejam utilizados na clínica com crianças e reconhecidos como elementos típicos do período da latência, a literatura psicanalítica se mostra pouco provida de pesquisas sobre jogos em comparação com os estudos do brincar e das produções verbais e gráficas. Assim, com base em autores contemporâneos, especialmente francófonos, o presente artigo analisa a função do jogo no período de latência e suas possíveis contribuições na clínica. Realizando uma releitura de construtos clássicos do desenvolvimento psicossexual e da metapsicologia freudiana à luz das possibilidades clínicas do jogo, o artigo foi organizado em três pilares: (1) a história e os símbolos dos jogos de regras; (2) os trabalhos da latência, o prazer de pensar e a dimensão sublimatória e metapsicológica do jogo; (3) as especificidades da sua abordagem clínica. Discute-se, ademais, o papel do jogo na reativação da conflitiva edípica e sua fecundidade, considerando a prevalência da queixa escolar na demanda de atendimento durante a latência.

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2021-07-19

Edição

Seção

Artigos