Experiências de (des) continuidade e o vir a ser no abrigo: entre encontros e possibilidades
Palavras-chave:
bebê, acolhimento institucional, IRDI, Winnicott, psicanáliseResumo
O presente trabalho apresenta um fragmento de um projeto maior, o qual abordou as possibilidades de vir a ser em uma instituição de acolhimento. Nos propusemos a realizar uma operação de leitura da relação estabelecida entre bebês (até 18 meses) que se encontram acolhidos em abrigos residenciais de Porto Alegre (RS - Brasil) e seus respectivos cuidadores. Para tanto, utilizamos os Indicadores Clínicos de Referência para o Desenvolvimento Infantil (IRDIs). Buscamos ainda, a partir de conceitos fundamentais da teoria de D. Winnicott, apoio para refletir acerca do que se mostrou em evidência, de modo que as concepções de ambiente e de (des)continuidade dos cuidados serviram como base nesta leitura e construção de significados, permitindo a emergência de alguns apontamentos: mesmo ressaltando o direito da continuidade dos cuidados que toda criança possui, a separação da mãe/família não necessariamente se faz, por si só, traumática. Compreendemos, portanto, que mesmo sendo portadores de uma marca primeira (privação da família originária), existe possibilidade de o bebê se desenvolver satisfatoriamente no contexto do acolhimento institucional desde que possa estabelecer um encontro com alguém/ambiente disponível para sustentá-lo, para proporcionar uma experiência de continuidade e para impedir que seu sofrimento inicial impossibilite seu vir a ser.
Referências
Brasil (2010). Estatuto da criança e do adolescente. 7º Edição. Brasília: Câmara.
Cyrulnik, B. (2006). Falar de amor à beira do abismo. São Paulo: Martins Fontes.
Ferenczi, S. (1992). Confusão de língua entre os adultos e a criança. In Sándor Ferenczi: Obras Completas.Psicanálise III. São Paulo: Martins Fontes. (Originalmente publicado em 1933).
Figueiredo, L. C. (2009). As diversas faces do cuidar: novos ensaios de psicanálise contemporânea. São Paulo: Escuta.
Iannelli, A. M., Assis, S. G. & Pinto, L. W. (2015). Reintegração familiar de crianças e adolescentes em acolhimento institucional em municípios brasileiros de diferentes portes populacionais. Ciência & Saúde Coletiva, 20 (1), 39-48.
Janczura, R. (2008). Abrigo e políticas públicas: As contradições na efetivação dos direitos da criança e do adolescente. Tese de doutorado em Serviço Social. Porto Alegre.
Jerusalinsky, J. (2002). Enquanto o futuro não vem: A psicanálise na clínica interdisciplinar com bebês. Salvador: Ágalma.
Jerusalinsky, J. Berlink, M. (2008). Leitura de bebês. Estilos da clínica. v.13 n.24. São Paulo.
Kupermann, D. (2009). Figuras do cuidado na contemporaneidade: testemunho, hospitalidade e empatia. In Maia, M. S. (org.). Por uma ética do cuidado. Rio de Janeiro: Garamond.
Kupfer, M. C. M. & Bernardino, L. M. F. (2018). IRDI: Um instrumento que leva a psicanálise à polis. Estilos da Clínica, 23 (1), 62-82. https://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v23i1p62-82
Kupfer, M. C., Voltolini, R. (2005). Uso de Indicadores em Pesquisas de Orientação Psicanalítica: Um Debate Conceitual. In Lerner, R. Kupfer. M. C. M. Psicanálise com crianças: Clínica e pesquisa. São Paulo: Escuta.
Kupfer, M. C., Jerusalinsky, N., Bernardino, L., Wanderley, D., Rocha, P., Molina, S., et al. (2009). Valor preditivo de indicadores clínicos de risco para o desenvolvimento infantil: um estudo a partir da teoria psicanalítica. Lat. Am.Journal of Fund. Psychopath, 6(1), 4868.
Liberati, W. Cyrino, P. (1993). Conselhos e fundos no estatuto da criança e do adolescente. São Paulo: Malheiros.
Loparic, Z. (2013). Winnicott e a ética do cuidado. [recurso eletrônico]. São Paulo: DWW Editorial. v.: digital. Coleção Psicanálise Winnicottiana.
Marin, I. S. K. (2011). Prefácio do documento Entre o singular e o coletivo: o acolhimento de bebês em abrigos. Nogueira, F. (org). Instituto Fazendo História.
Nazir, H. (2002). A criança adotiva e suas famílias. Rio de janeiro: Companhia de Freud.
Nogara, L. (2011). O que podemos prevenir no acolhimento institucional de bebês. In Entre o singular e o coletivo: o acolhimento de bebês em abrigos. Nogueira, F. (org). Instituto Fazendo História.
Omizzollo, P. (2017). Experiências de (des)continuidade e o vir a ser no abrigo: Desdobramentos a partir da teoria de D. W. Winnicott. Dissertação (Mestrado em PPG em Psicanálise: Clínica e Cultura) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Plastino, C. A. (2009). A dimensão constitutiva do cuidar. In Maia, M. S. (org.). Por uma ética do cuidado. Rio de Janeiro: Garamond.
Stahlschmidt, A. P. M.; Cintra, M. & Svirski, A. C. (2007). Desejo em Questão - considerações sobre a práxis do psicólogo nas equipes de abrigos de proteção. Percurso (São Paulo), 39, 9-16. http://revistapercurso.uol.com.br/index.php?apg=artigo_view&ida=188&id_tema=72
Wiles, J. M.; Omizzollo, P.; Ferrari, A. G.; Silva, M. R. (2017). A Pesquisa IRDI e seus desdobramentos: Uma revisão da literatura. Estudos e pesquisas em psicologia (UERJ. Impresso), 17 (3), 1140-1161.
Winnicott, D. W. (2007). Os objetivos do tratamento psicanalítico. Porto Alegre: Artes Médicas. In O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1960.)
Winnicott, D. W. (2000). Observação de bebês numa situação padronizada. In Da pediatria à psicanálise: Obras escolhidas. Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1941).
Winnicott, D. W. (2000). Preocupação Materna Primária. In Da pediatria à psicanálise: Obras escolhidas. Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1956).
Winnicott, D. W. (2006). A comunicação entre o bebê e a mãe e entre a mãe e o bebê: convergências e divergências. In Os bebês e suas mães. São Paulo: Martins Fontes. (Originalmente publicado em 1968).
Winnicott, D. W. (2007). Teoria do relacionamento paterno-infantil. In O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artmed. (Originalmente publicado em 1960).