Angústia e vergonha na clínica psicanalítica em situações de pobreza e outras vulnerabilidades

Autores

  • Karla Patrícia Holanda Martins Universidade Federal do Ceará - UFC - Brasil Associação Nacional de Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP
  • Beatriz Sernache de Castro Neves Associação Nacional de Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP - Brasil Faculdade Ari de Sá
  • Érika Teles Dauer Universidade Federal do Ceará - UFC
  • Iara Fernandes Teixeira Universidade Federal do Ceará - UFC

Palavras-chave:

angústia, vergonha, clínica, vulnerabilidades.

Resumo

Este trabalho se propõe lançar questões sob as condições de possibilidade de um trabalho analítico em contextos de privações diversas, caracterizados como contextos de vulnerabilidade, mediante dois operadores teóricos - a angústia e a vergonha. Diante das experiências de pesquisas anteriores com enfoque na constituição psíquica e no trabalho clínico-institucional com crianças desnutridas, deu-se a necessidade de desenvolver alguns apontamentos teóricos que nos ajudam a operar nesse trabalho. A realidade das famílias atendidas pela ONG Instituto da Primeira Infância - IPREDE, em Fortaleza-CE, é permeada pela convivência com a violência e com as dificuldades em relação às condições de vida que têm e o que podem oferecer aos filhos. Aliamos a nossa discussão analítica as contribuições que podem ser feitas por outros campos de saber, como a sociologia e a economia, buscando cada vez mais respeitar a complexidade dos fenômenos sociais e dos rearranjos que os sujeitos fazem para neles se encaixarem. Através da leitura freudiana da angústia, das novas proposições sobre uma metapsicologia da vergonha e da teoria do trauma de Ferenczi, buscamos entender o que pode a psicanálise nesses contextos ditos vulneráveis. Essa é uma questão sempre complexa, mas percebemos que clínica não é sinônimo apenas de consultório, mas também de espaços de expressão do sujeito do inconsciente, independentemente do lugar físico e da situação social na qual o sujeito se encontra.

Biografia do Autor

Karla Patrícia Holanda Martins, Universidade Federal do Ceará - UFC - Brasil Associação Nacional de Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP

Professora do Departamento de Psicologia e coordenadora do Programa de Pós-graduação de Psicologia da Universidade Federal do Ceará. Pós-doutora pelo Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo - USP. Membro do Grupo de trabalho "Psicanálise e clínica ampliada" da Associação Nacional de Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP.

Beatriz Sernache de Castro Neves, Associação Nacional de Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP - Brasil Faculdade Ari de Sá

Psicóloga. Mestre em Psicologia pela Universidade de Fortaleza. Doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Ceará. Docente do curso de Psicologia da Faculdade Ari de Sá.

Érika Teles Dauer, Universidade Federal do Ceará - UFC

Psicóloga. Mestre em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará - PPGP/UFC. Doutoranda em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará - PPGP/UFC.

Iara Fernandes Teixeira, Universidade Federal do Ceará - UFC

Psicóloga. Mestranda em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará - PPGP/UFC.

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Publicado

2018-12-02

Edição

Seção

Dossiê