O problema da ontologia na psicanálise de orientação lacaniana
Palavras-chave:
Psicanálise lacaniana – ontologia – analítica existenciáriaResumo
A discussão sobre a ontologia está relacionada com a política da psicanálise, pois toda teoria impõe uma forma e carrega consigo efeitos de poder. Por este motivo toda a prática clínica precisa realizar uma crítica das decisões ontológicas subjacentes às construções conceituais. Neste artigo pretendemos indicar que existe uma espécie de recusa aos problemas da ontologia na psicanálise de orientação lacaniana. Os principais modos desta recusa são os argumentos da superação da ontologia pela assunção da psicanálise a um estatuto ético, por uma evolução interna do seu quadro conceitual e pela abolição da discussão sobre o referente para o significante. A seguir, apresentamos o posicionamento de autores críticos que fazem exceção ao discurso da superação, bem como os parâmetros pelos quais estes propõem abordar o tema da ontologia. Por fim, buscamos justificar a importância da discussão ontológica na psicanálise e sugerimos a retomada de um diálogo com Heidegger como estratégia para abordar o tema.
Referências
Agamben, Giorgio. (2006). A linguagem e a morte: um seminário sobre o lugar da negatividade. Ed. Humanitas. (Trad. Henrique Burigo). Belo Horizonte. Editora UFMG. Seminário proferido em 1979-1980.
Balmès, François. (2002). Lo que Lacan dice del ser (1953-1960). (Traducción de Horácio Pons. 1ª ed. Buenos Aires: Amorrortu).
Beividas, Waldir. (2000). Inconsciente et verbum: psicanálise, semiótica, ciência, estrutura. São Paulo: Humanitas / FFLCH / USP.
Cassin, Barbara. (2013). O Ab-senso de Lacan de A a D. In: Badiou, Alain. Não há relação sexual: duas lições sobre “O aturdito” de Lacan. (Alain Badiou e Barbara Cassin. Trad. Claudia Berliner) Rio de Janeiro: Zahar.
Cetran, Héctor Pelegrina (2006). Fundamentos antropológicos de la psicopatología. Ediciones Polifemo, Madrid.
Costa, Márcio Luis. (2009). Lévinas: Subjetividade, intersubjetividade y ética. 1ª Ed. Bogotá: Editorial Bonaventuriana.
Couto, Luis Flávio Silva, & Souza, Marcelo Fonseca Gomes de. (2013). O estruturalismo em Jacques Lacan: da apropriação à subversão da corrente estruturalista no estabelecimento de uma teoria do sujeito do inconsciente. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 16(2), 185-200. https://dx.doi.org/10.1590/S1516-14982013000200001
David-Ménard, Monique. (2001). La négation comme sortie de l'ontologie. Revue de métaphysique et de morale. II (n° 30), pp. 59-67. DOI 10.3917/rmm.012.0059
Dunker, Christian Ingo Lenz (2017a). A psicanálise como crítica da metafísica em Lacan. In: Analytica. São João del-Rei. V. 6 n. 10, São Paulo. Recuperado em 29 de agosto de 2018 de: http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/analytica/article/view/2513
Dunker, Christian Ingo Lenz. (2007). Ontologia negativa em psicanálise: entre ética e epistemologia. Discurso, (36), 217-242. https://doi.org/10.11606/issn.2318-8863.discurso.2007.38078
Dunker, Christian Ingo Lenz. (2016). Por que Lacan? São Paulo: Zagodoni.
Dunker, Christian Ingo Lenz. (2017b). O Esquecimento da Ontologia e as Tendências Metafísicas do Lacanismo Contemporâneo. Texto ainda não publicado.
Goldenberg, Ricardo. (2016). Qual metafísica para a psicanálise? Aula Magna proferida na Universidade de Londrina em 4 de março de 2016. Recuperado em 13 de outubro de 2017 de: https://ricardogoldenberg.files.wordpress.com/2017/02/qual-metaficc81sica-para-a-psicanacc81lise.pdf
Greimas, Algirdas Julius. (2008). Dicionário de semiótica / Algirdas Julius Greimas e Joseph Courtés. (Trad. Vários tradutores). São Paulo: Contexto. Texto originalmente publicado em 1986.
Guimarães, B. (2007). O estatuto do inconsciente é ético. Discurso, (36), 257-272. https://doi.org/10.11606/issn.2318-8863.discurso.2007.38080
Heidegger, Martin. (1991). Carta sobre o humanismo. (Trad. Rubens Eduardo Frias, 1ª ed.). São Paulo: Editora Moraes. Publicado originalmente em 1946.
Heidegger, Martin. (2012). Ser e tempo. (Trad., org., nota prévia, anexos e notas: Fausto Castilho). Campinas-SP: Editora da Unicamp / Petrópolis, RJ: Editora Vozes. Publicado originalmente em 1927.
Lacan, Jacques. (1978). Le rêve d’Aristote. Conférence à l’Unesco. Colloque pour le 23e centenaire d’Aristote. Publication par Unesco. Sycomore, pp. 23-24. Recuperado em 20 de março de 2018 de: http://www.praxislacaniana.it/wordpress/Praxis/Recensioni-Stampa/Lacan-Aristote.pdf
Lacan, Jaques. (1998). O estágio do espelho como formador da função do eu tal como nos é revelado na experiência psicanalítica. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. Publicado originalmente em 1949.
Lacan, Jaques. (1998). A direção do tratamento e os princípios de seu poder. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Publicado originalmente em 1958.
Lacan, Jaques. (1999) O seminário. Livro 5: as formações do inconsciente. (Texto estabelecido por Jacques Alain Miller. Trad. de Vera Ribeiro). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. Seminário ocorreu em 1957-1958.
Lacan, Jaques. (2008a). O seminário. Livro 7: A ética da psicanálise. (Texto estabelecido por Jacques Alain Miller. Trad. de Antônio Quinet). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. Seminário ocorreu em 1959-1960.
Lacan, Jaques. (2008b). O seminário. Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. (Texto estabelecido por Jacques Alain Miller. Trad. de M.D. Magno). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Seminário ocorreu em 1964.
Lacan, Jaques. (2016). O Seminário, livro 6: O desejo e sua interpretação. (Texto estabelecido por Jacques Alain Miller. Trad. de Cláudia Berliner). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. Seminário ocorreu em 1958-1959.
Leguil, Clotilde. (2013). Usos lacanianos de la ontología. Virtuália. Revista Digital de la Escuela de la Orientación Lacaniana. n. 27. Recuperado em 30/08/2018 de: http://www.revistavirtualia.com/storage/articulos/pdf/HahEF6nSp2qxB6I8gtb5gP6mORzHzOy7hugLnB0D.pdf
Levinas, Emmanuel. (1980). Totalidade e Infinito. (Trad. José Pinto Ribeiro. 3ª ed). Lisboa: Ed. 70.
López, Héctor. (2011). Lo fundamental de Heidegger en Lacan. (2ª ed.). Buenos Aires: Letra Viva.
Martinéz, Horácio G. (2011). El fin de la filosofia, el fin del análises: La temática del “fin” en Heidegger y Lacan. In: López, Héctor. Lo fundamental de Heidegger en Lacan. (2ª ed). Buenos Aires: Letra Viva.
Miller, Jacques-Alain. (2011). O Ser e o Um. (Trad. Vera Avellar Ribeiro. Revisão: Carlos Augusto Nicéas. Versão final e subtítulos: Marcus André Vieira). Seminário de Orientação Lacaniana. De 19 de janeiro de 2011 à 15 de junho de 2011.
Moura, Patricia de Campos. (2017). Notas sobre uma ontologia em Lacan: um diálogo com Heidegger. Psicologia USP, 28(3), 451-456. https://dx.doi.org/10.1590/0103-656420160077
Nancy, Jean-Luc & Lacoue-Labarte, Philippe. (1991). O título da letra: uma leitura de Lacan. (Trad. Sérgio Joaquim de Almeida. Revisão Técnica: Durval Checchinato). São Paulo: Escuta. Texto originalmente publicado em 1973.
Nathan, Tobie. (1996). Psicoterapia ou psicoterapias. Cadernos de Subjetividade. n. 4, pp. 20-46.
Safatle, Vladimir. (2006). A paixão do negativo: Lacan e a dialética. São Paulo: Editora UNESP.
Safatle, Vladimir. (2007). A teoria das pulsões como ontologia negativa. Discurso, (36), 151-192. https://doi.org/10.11606/issn.2318-8863.discurso.2007.38076
Safouan, Moustapha. (2006). Lacaniana I: Os seminários de Jacques Lacan: 1953-1963. (Trad. Procópio de Abreu). Rio de Janeiro: Companhia de Freud.
Stein, Ernildo. (1976). Melancolia: Ensaios sobre a finitude no pensamento ocidental. Porto Alegre: Editora movimento.
Stein, Ernildo. (2011). Introdução ao pensamento de Martin Heidegger. Porto Alegre: Editora EDIPUCRS.