De Medeia à alienação parental: traduções trágicas para o excesso pulsional

Autores

  • Aline Spaciari Matioli Instituto Federal do Paraná (IFPR) Universidade Estadual de Maringá (UEM)
  • Viviana Carola Velasco Martínez Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Palavras-chave:

psicanálise, separação amorosa, tragédia grega, teoria da sedução generalizada, alienação parental

Resumo

A tragédia grega Medeia, de Eurípides, é tomada como uma metáfora para discutir as vicissitudes de uma separação amorosa. Inspiradas na teoria tradutiva de Jean Laplanche, privilegiamos o desamparo da heroína diante da pulsão desligada pela ruptura do vínculo com Jasão, o que a leva a adotar saídas pouco organizadas na tentativa de dar conta do excesso pulsional, sobretudo por não encontrar no meio assistentes de tradução. Contemporaneamente, além dos casos extremos de filicídio, é na alienação parental que o cônjuge, que se sente abandonado, parece encontrar recursos de ligação, mas de forma igualmente precária, o que deixa restos não traduzidos e, portanto, pouco elaborados.

Biografia do Autor

Aline Spaciari Matioli, Instituto Federal do Paraná (IFPR) Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Psicóloga do Instituto Federal do Paraná, Campus Ivaiporã (IFPR), mestre e doutoranda em Psicologia, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia – núcleo de pesquisa em Psicanálise e Civilização, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Paraná, Brasil.

Viviana Carola Velasco Martínez, Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Professora doutora no curso de graduação e pós-graduação em Psicologia e coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisa em Psicanálise e Civilização, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Paraná, Brasil.

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2022-01-14

Edição

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Artigos