PSICANÁLISE E NEUROCIÊNCIAS: DIFERENÇAS TEÓRICAS DO CONCEITO DE SUJEITO NA CLÍNICA DAS TOXICOMANIAS

Autores

Palavras-chave:

psicanálise, neurociências, toxicomanias, dependência química

Resumo

A ideia de uma dependência química produzida pela influência de substâncias psicoativas no cérebro do indivíduo está diretamente associada com o discurso decorrente da produção científica das neurociências. A redução da experiência subjetiva ao cérebro reforça a compreensão de que o sujeito contemporâneo é um sujeito cerebral, regulável por medicamentos. Neste cenário, críticas à psicanálise surgem pela tentativa de deslegitimação de sua abordagem compreendida como não científica. Este artigo tem por objetivo discutir teoricamente pontos de aproximação e afastamento entre psicanálise e as neurociências, tendo como enfoque diferenças de concepção a respeito do método científico. O bojo da discussão são as práticas terapêuticas associadas ao tratamento de usuários de álcool e outras drogas, uma vez que a psicanálise aposta em um sujeito em relação ao corpo mas não redutível ao cérebro. As neurociências propõe constructos teóricos que visam explicar o fenômeno ao nível bioquímico, enquanto a psicanálise constrói sua teoria a partir da prática singular de cada caso.

Biografia do Autor

Maycon Rodrigo da Silveira Torres, Faculdades Integradas Maria Thereza (FAMATh)

Psicólogo. Mestre e Doutor em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense(UFF). Professor nas Faculdades Integradas Maria Thereza (FAMATH). Coordenador do Serviço de Atendimento a Usuários de Drogas no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba/Niterói.

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Publicado

2024-07-22

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Artigos