Considerações psicanalíticas sobre o risco na adolescência: relações entre a aposta de pascal e as “figuras diabólicas” na literatura

Autores

Palavras-chave:

Psicanálise, Adolescência, Literatura, Risco, Pacto Diabólico

Resumo

Este artigo apresenta uma discussão sobre a leitura lacaniana da Aposta de Pascal e sobre a dimensão do desejo, destacando as condutas de risco da adolescência e, especialmente, aquilo que muitas vezes é colocado sob o nome de uma tentação diabólica. Neste percurso buscou-se uma aproximação entre psicanálise e literatura utilizando-se de textos cujos personagens entregam suas almas em pactos diabólicos, como as obras O diabo Enamorado de Cazotte (1772), O Fausto de Goethe (1790-1832), O Mandarim (1880) de Eça de Queiroz, Grande Sertão Veredas (1956) de Guimarães Rosa e Os demônios (1871) de Dostoiévski.  Para apontarmos como o desejo pode se articular pela via das tentações inconscientes, aproximamo-nos das lógicas das figuras diabólicas e, por meio das narrativas dos adolescentes, estabelecemos a sua possível relação com o luto impossível, a recorrência do tédio, o preço da riqueza, a afirmação viril e a disposição da revolta.

Biografia do Autor

Carlos Roberto Drawin, Universidade Federal de Minas Gerais

Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1971), graduação em Bacharelado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1979), mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1999) e doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2005). Até 2010, quando se aposentou, foi professor do programa de pós-graduação (mestrado e doutorado) em filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais e membro titular do colégiado do mesmo programa . Lecionou na UFMG diversas disciplinas nas áreas de psicanálise (metapsicologia, história do pensamento psicanalítico) e filosofia (antropologia filosófica, epistemologia das ciências humanas) dedicando-se a pesquisar a interface psicanálise/filosofia e o pensamento hermenêutico contemporâneo, sobretudo Heidegger e Ricoeur. Atualmente é professor titular da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia e membro titular do colegiado do curso de pós-graduação em filosofia.

Jacqueline Oliveira Moreira, Pontificia Universidade Católica de Minas Gerais

Doutora em Psicologia Clinica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2002) com foco em estudos sobre o problema da alteridade na teoria freudiana. Realizou um estágio Pós-Doutoral na Faculdade Jesuíta de Teologia e Filosofia (2007), estudando, com Ulpiano Vazquez, o problema da subjetividade e alteridade em Lévinas. Mestre me filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1996) e graduada em psicologia pela UFMG (1992). Atualmente é professora adjunto IV da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, integrando o corpo docente do mestrado e doutorado em Psicologia desta instituição. Foi coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC (2008-2011). Elaborou e implantou o projeto do doutorado em psicologia da PUC Minas (Conceito 5 CAPES). Tem colaborado como consultora de vários periódicos e na comissão cientifica de diversos congressos. Tem experiência na área de Psicologia clinica, com ênfase na teoria freudiana. Trabalha com pesquisa buscando promover um diálogo entre os problemas psicossociais atuais e as teorias psicológicas, em especial a teoria freudiana, concentrando nos seguintes temas: modos de subjetivação e pós-modernidade, processos psicossociais, o problema da alteridade, sofrimento psíquico e pós-modernidade, violência e juventude e medidas socioeducativas. É membro do GT Psicanálise, Clínica e Politica. Idealizou e promoveu o 1º encontro dos pesquisadores deste GT com psicólogos da rede publica da grande BH. Organizadora de livros que trabalham com temas como: Inclusão e Exclusão do Hanseniano, Metodologias de pesquisa em psicanálise, Violência e contemporaneidade, a escuta psicanalítica na assistência social, saúde mental e defesa social. Atualmente trabalha em pesquisas e intervenções junto ao sistema de medidas socioeducativas de Belo Horizonte. Bolsista Produtividade PQ2 do Cnpq e Pesquisador Mineiro FAPEMIG (2014-2017). Membro do Colegiado (2014-2020)

 

Andrea Máris Campos Guerra, UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais

Possui graduação em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1994), graduação em Psicologia pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (1995), mestrado em Psicologia Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (2000) e doutorado em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com período de estudos aprofundados na Université de Rennes II (2007) e pós-doutorado em andamento da Université Paris 8 (2018), sendo atualmente professora adjunta do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFMG. Ênfase da produção acadêmica e profissional junto aos temas de Psicanálise e Política; Adolescência e Infração; Clínica psicanalítica.

Nádia Láguardia de Lima, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Possui pós-doutorado em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Doutorado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais, Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais, Especialização em Docência do Ensino Superior (CNP), Especialização em Clínica e Saúde Mental (CNP) e Graduação em Psicologia (UFMG). É professora Associada do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. É coordenadora do Laboratório de Psicologia e Educação do Departamento de Psicologia da UFMG. Coordena o grupo de pesquisa: Além da Tela: psicanálise e cultura digital, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFMG. É autora do livro: A escrita virtual na adolescência: uma leitura psicanalítica (Editora UFMG), e co-organizadora de vários livros. Coordena o Programa de Extensão da UFMG: Brota: Juventude, Educação e Cultura. Ênfase na produção acadêmica e profissional junto aos temas: psicanálise e cultura digital, psicanálise e educação, clínica psicanalítica com crianças e adolescentes. Recebeu o Prêmio CAPES de Teses 2010 e o Prêmio UFMG de Teses 2010, ambos da área da Educação. É membro do LEPSI seção Minas. Pesquisadora associada ao GT Psicanálise e Educação da ANPEPP e vice-coordenadora do GT desde julho de 2018. É membro da Rede Internacional Coletivo Amarrações.

Patricia da Silva Gomes, Universidade Federal de Minas Gerais

Doutoranda em Psicologia -Estudos Psicanalíticos/UFMG, Mestre em Psicologia, Psicanalista, Psicóloga pela PUC Minas, Especialista em Psicologia Clínica pelo Conselho Federal de Psicologia

Referências

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Publicado

2022-08-17

Edição

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Artigos