Um sujeito, uma política e o ato psicanalítico: uma reflexão sobre o enlace contingencial da ação do psicanalista em tempos de Covid-19
Palavras-chave:
Coronavírus, Mal-estar, Psicanálise, Laço social, PolíticaResumo
Em meio à crise de saúde pública devido à pandemia pelo novo coronavírus, a atualidade convoca o psicanalista a estar à altura do seu tempo. Este trabalho propõe uma reflexão sobre a ação do psicanalista como ouvidor hospitalar em tempos de Covid-19, em uma das maiores instituições hospitalares públicas do Brasil, localizada na cidade de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Faz-se uma proposta de pensar sobre o inconsciente como uma ação política, uma política para a psicanálise, ao levar em conta sua força subversiva que nos impulsiona à vida social de seres de linguagem. Para construir um saber sobre essa experiência institucional, realizou-se um levantamento teórico conceitual a partir dos autores que retratam a atualidade. Neste cenário, na instituição hospitalar, percebeu-se uma política que se fundamenta no ensurdecimento frente ao singular, com normas rígidas propostas pelos gestores mesmo em tempos de pandemia. Fez-se necessário a presença de um analista que “ouve dor” e acolhe os sujeitos, que relatam algum mal-estar desestabilizando a ordem discursiva político-institucional diante do imperativo do discurso do capitalista. A presença do psicanalista com seu ato, não como uma clínica propriamente dita, mas, como uma escuta psicanalítica, sob uma intervenção pontual, concreta e precisa, teve efeitos e desvelou como a psicanálise se inova diante de uma emergência sanitária em tempos de pandemia. Hoje, parece que não é só a clínica que interroga a teoria e nos faz avançar, mas também o fazem as observações das práticas e dos discursos no laço social – este que, na atualidade pandêmica, tem nos surpreendido e nos convocado às investigações.
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