A contratransferência como dispositivo vivo na clínica dos funcionamentos limites
Palavras-chave:
contratransferência, transferência, dispositivo, funcionamentos limitesResumo
Neste artigo abordamos o tema dos casos-limite e as especificidades dessa clínica para, em seguida, apresentarmos um caso clínico que permite discutir as questões sobre a técnica e a contratransferência. Ao se considerar essa outra cena como dispositivo vivo do analista, refletimos sobre a necessidade de adaptações no setting e da manutenção da capacidade de pensar do analista para conter a destrutividade apresentada por tais pacientes. A análise ocorre, então, como um espaço para construir o que não foi representado ou o nunca vivido, ao construir possibilidades da realização da alteridade e do desenvolvimento da função simbólica. Esta clínica demanda do analista disponibilidade, abertura, presença, apoio, receptividade, capacidade de “conter”, de receber em depósito e de simbolizar ali onde o outro ainda não consegue fazê-lo, nisso reside uma grande parte das condições de trabalho. Nesse sentido, o trabalho clínico requer do analista, além de sua capacidade de pensar e sonhar, sua capacidade de estar com o outro de forma afetiva. Trabalho que convoca ter empatia, paciência, capacidade de espera, em função de lidar com pacientes mais sensíveis e ter a capacidade de enlouquecer junto, ao entrar em sintonia com eles no momento da sessão.
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