A "neurose" de Freud

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DOI:

https://doi.org/10.71101/rtp.56.702

Resumo

Neste artigo, procura-se investigar o uso que fez Freud do termo “neurose”. Se, de um lado, tratava-se de um termo corriqueiro, muito utilizado pela psiquiatria do fim do século XIX, pode-se dizer, de outro lado, que com Freud suas acepções se alteraram, até ela se tornar uma palavra central de sua teoria. Assim, embora a psiquiatria oficial tenha abandonado o termo “neurose”, que deixou de constar no DSM em sua quarta edição, de 1987, os psicanalistas continuam utilizando-o até hoje, tamanha a sua centralidade no léxico psicanalítico. No entanto, as relações entre Freud e a palavra “neurose” não são tão pacíficas, como se poderia esperar. Não somente Freud questiona o termo, caracterizando-o como “antigo” e “inadequado”, como amplia consideravelmente seu campo semântico. “Neurose” é termo polivalente em Freud: em sua acepção clássica de “doença dos nervos”, ela se encontra presente nas chamadas “neuroses atuais”, cuja causação seria puramente tóxica ou orgânica; em sua acepção propriamente psicanalítica, por assim dizer, nas “neuroses de defesa” ou “psiconeuroses”, estaria em jogo uma causação mais complexa, em que fatores psíquicos interviriam no surgimento dos sintomas. “Neurose”, aqui, seria um marcador equívoco, sinalizando limites importantes da disciplina psicanalítica: entre a alma e o corpo, entre o orgânico e o psíquico. Além disso, “neurose” também seria um conector plurívoco na teoria freudiana, na medida em que Freud emprega o termo como uma ponte entre discursos e disciplinas: é o caso da Teufelsneurose (“neurose do diabo”), termo usado em 1923 para caracterizar um caso de pacto com o diabo do século XVII, que põe em relação, num só golpe, o discurso religioso e o discurso psiquiátrico. Demarcação de limites internos à psicanálise e ampliação das fronteiras do discurso psicanalítico: aí se situaria a “neurose” de Freud.

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Publicado

2025-01-07

Como Citar

Fernandez de Souza, P. (2025). A "neurose" de Freud. Revista Tempo Psicanalítico, 56, e–702. https://doi.org/10.71101/rtp.56.702

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Artigos