“Queimar celeiros”: O significante fálico como rastro na compreensão do objeto no fetichismo

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Resumo

Este artigo parte do significante “Queimar celeiros” – que propomos operar como eixo ordenador do filme “Em chamas”, do diretor sul-coreano Lee Chang-dong – e busca esclarecer seu modo de funcionamento a partir do inconsciente. Interpretaremos o filme como resto de sua própria execução, pois o diretor, ao articular dois contos homônimos de escritores com estilos distintos (William Faulkner e Haruki Murakami), explora uma ambiguidade na condensação que reúne objetos que funcionam como índices de um acontecimento que não assistimos, e que, todavia, é captado no filme pelo significante aludido. Propomos que “queimar celeiros” assume a função de significante fálico fazendo girar as possibilidades de sentido na construção narrativa de tal modo que ele pode assumir várias apresentações dependendo do lugar do qual se olha para a história. Na sequência, o articularemos ao procedimento histórico/fotográfico executado no fetichismo desde as leituras freudiana e lacaniana. O fetichismo elege um objeto que funciona como índice da fantasia, fabricando-o através de um procedimento imaginário com coordenadas simbólicas que visa corrigir a percepção da castração feminina retrocedendo a um momento anterior desta constatação. O objeto do fetichismo é um recorte metonímico de uma cena infantil alocado na fantasia como ordenador do gozo. Tomando o filme como objeto de análise, buscaremos esclarecer como sua montagem e narrativa permitem apreender a lógica de constituição do fetiche. Desse modo, veremos que pensar o procedimento narrativo e as apreensões metonímica e metafórica do objeto será correlativo das formas de apreensão histórica de um acontecimento. Assim, o significante “queimar celeiros” constitui o “resto” de uma operação e funciona, a um só tempo, como “causa” que orienta toda a construção fílmica e ilustração do objeto em suas apreensões metafórica e metonímica. Veremos que o significante fálico, por seu funcionamento como furo, portanto negativo, apresenta-se na perversão em sua face positivada.

Biografia do Autor

Priscilla Hadassa Rabelo Gomes, Universidade Federal do Ceará

Mestranda em Psicologia, pela Universidade Federal do Ceará, na linha Teorias e Práticas da Psicanálise. 

Caciana Linhares Pereira, UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

Doutora em Educação e professora adjunta do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará - UFC.

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Publicado

2023-09-29

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Artigos