Luz e sombra, liberdade e servidão: o Novo Iluminismo à luz da psicanálise
Resumo
Este artigo se organiza metodologicamente enquanto um ensaio estendido, no qual procura analisar as consequências da proposição de um novo iluminismo estabelecido por Pinker à luz da psicanálise. Apresentamos suas teses centrais: razão, ciência e humanismo, e as contrapomos às implicações que a inventiva freudiana nos autoriza. Nesse contexto, apresentamos o modo como o conceito de razão implica a desrazão, assim como a luz alude às sombras, ou o consciente implica o inconsciente. Apresentamos as linhas gerais da inventiva do Esclarecimento, considerando que a metafísica da modernidade se radica fundamentada na concepção conceitual da luz, a partir de seu desdobramento social, o Iluminismo. Salienta-se que, se o personagem máximo do Iluminismo filosófico é Immanuel Kant, com sua obra maiúscula sobre a Razão Pura, então cumpre que se apresente um modelo de racionalidade para o qual se faz imperioso certa arqueologia da razão (ratio), na qual a noção de proporção e secção (sex ratio) é elemento basilar. Na linha desse raciocínio, articulamos ainda o modelo geométrico do racionalismo absoluto e imanente da filosofia de Espinosa, com a proposição de um real contingente em Lacan. Assim, Kant com Sade, Espinosa com Lacan e Pinker com Freud, é o que ambicionamos articular para demonstrar que a demanda de mais Luz!, como significante da Razão, não se apresenta sem que ocorra a realização sombria do Esclarecimento, ou ainda, sem que se considere a dinâmica do estofo afetivo do desejo que compõe a estrutura lógica de seu avesso: o inconsciente. Instância na qual se digladiam, à revelia do sujeito, a liberdade e a servidão. Uma verdadeira guerra – esforço aguerrido para que a Razão nunca durma. Muito embora saibamos que é com seu sono que teremos sonhos, e assim a aurora de um gaio saber, ou uma nova ciência – aquela que não foraclui seu sujeito.