Narrando dores: testemunho, luto e memória
Resumo
O presente artigo faz parte de uma pesquisa mais ampla de pós-doutoramento sobre corpo, luto, memória, trauma psíquico e modos de subjetivação, realizada pela autora. Aqui, buscamos interrogar as interseções entre as esferas pública e privada, a história e a memória, o pessoal e o coletivo, defendendo a necessidade de uma escrita do luto, aliada à potência política da imaginação, como tarefa primordial cultural e social. Pré-condição para elaboração do passado e, sobretudo, para a construção de nosso presente. Por meio da escolha de um corpus, inicialmente, amplo e heterogêneo, mas articulado por formas compartilhadas de violência de Estado, perda e desaparecimento, procuramos mapear distintas formações discursivas que problematizem nosso hipertrofiado espaço biográfico e atrofiado campo político. No contexto de uma virada testemunhal de uma sociedade, simultaneamente, marcada pela catástrofe e mediada pela imagem, talvez seja preciso, como tarefa política urgente, narrar o trauma e escrever o luto para, desse modo, desprivatizar a dor. Neste sentido, para refletir sobre a dimensão política da dor, nos pareceu oportuno utilizar a desconstrução do conceito tradicional de arquivo feita pelo filósofo Jacques Derrida.